Fáscia – a roupa interna que reveste e conecta todo o corpo

A  fáscia é um tecido conjuntivo que recobre todo o nosso corpo internamente.  Ignorada por séculos, começou a ser estudada pelos cientistas recentemente. Antes, os especialistas em dissecação e estudiosos do corpo humano descartavam essa membrana.  No início dos anos 2000, Carla Stecco, ortopedista e cirurgiã da Universidade de Padova, na Itália, definiu o que era fáscia. Segundo a médica, a fáscia é uma bainha, uma folha, um tecido conjuntivo que se forma sob a pele para fechar os músculos e outros órgãos internos.  Se você já preparou uma carne para almoçar, deve ter percebido finas membranas brancas ou prateadas envolvendo o músculo, isso é a fáscia.

Essa membrana reveste o corpo de forma ininterrupta, dos pés à cabeça, separando e ao mesmo tempo conectando todas as estruturas. Está presente nos músculos, nos ossos, nos tendões, nas vísceras, nas artérias e até mesmo no sangue.  A fisioterapeuta Ana Otsubo explica que o tecido carrega nossa história, nossas experiências, nossas emoções, tem a nossa assinatura pessoal e define a arquitetura do nosso corpo.

“Não existem espaços vazios no corpo. Onde parece estar vazio, tem a fáscia, ela é “onipresente”, ou seja, está em tudo, afirma Otsubo.

Formada por matriz extracelular e por células, a fáscia é rica em colágeno, elastina e substância fundamental, além de ser repleta de receptores, o que a torna o maior órgão sensorial do corpo.

Sua estrutura pode mudar, vai depender do local onde ela está e da função que exerce. A fáscia lata, por exemplo, que recobre os músculos laterais da coxa, tem a função de manter o corpo humano de pé, por isso, ela é mais forte e mais fibrosa. Já as fáscias que recobrem veias e artérias são mais elásticas, permitindo um amplo movimento e elasticidade a esses vasos.

É a fáscia que transmite a força entre os músculos e também permite que eles deslizem uns sobre os outros, sem grudar. Ela precisa estar hidratada para permitir o deslizamento; e firme ou “pré-tensionada” para gerar tensão necessária para a transmissão de força.

Otsubo faz uma analogia entre a fáscia e uma cama elástica: se um dos lados da cama estiver solto ou fraco, não tem como saltar na cama, ela não vai exercer sua função. Já uma cama bem montada, bem esticada, permite saltos mais altos.  A fáscia também precisa estar firme para potencializar os movimentos. 

A fáscia é dividida em camadas: superficial, perifáscia, profunda e de revestimento. A superficial pode ser fibrosa e elástica, tem variação de gordura, é altamente sensorial, está envolvida na termorregulação, define a arquitetura, o formato do corpo. Ela se comunica com a perifáscia, também chamada de fáscia frouxa, onde acontecem os deslizamentos entre os tecidos, permitindo o movimento dos músculos.

A fáscia profunda está fora e dentro dos músculos. Ela recobre cada músculo, mas também está dentro deles. Sua função é transmitir força. Já a fáscia de revestimento reveste cada víscera e permite o movimento entre as vísceras e delas com os músculos.  Ela é rica em receptores, o que nos permite a interocepção, a percepção interna que nos avisa que estamos com sede, com fome ou com vontade de ir ao banheiro, por exemplo. Os intestinos são todos revestidos por esse tipo de fáscia.

A fáscia está distribuída por “trilhos” ou linhas que percorrem o corpo. Temos a linha superficial posterior, a superficial anterior, a anterior profunda, as linhas laterais e também as espirais que cruzam o corpo.

Rica em hialurona e colágeno, a fáscia traz resiliência e também é responsável por conservar energia. Sabemos que temos vários tipos de colágeno, sendo três muito importantes para a fáscia. O tipo  1, mais fibroso, presente nos tendões,  ossos e ligamentos; o tipo 2, menos fibroso, está nas cartilagens e discos intervertebrais; e o tipo 3, mais elástico, muito presente nas artérias, veias e órgãos.

À medida que envelhecemos, produzimos mais colágeno do tipo 1, o que deixa o corpo mais rígido. Na menopausa, esse fenômeno também acontece e acelera a rigidez.

Mas a boa notícia é que o movimento, o exercício físico ajuda na produção de colágeno tipo 2 e 3, o que auxilia na reparação da fáscia, deixando o corpo mais flexível e com a musculatura tonificada. Então, podemos afirmar que a atividade física é como um bálsamo para a fáscia, hidratando, fortalecendo e permitindo o deslizamento entre os tecidos, o que nos deixa mais flexíveis e fortes ao mesmo tempo.

A prática de yoga se mostra uma excelente maneira de trabalhar a fáscia, pois age em todos os “trilhos”. Uma postura de torção, por exemplo, vai atuar nas linhas espirais, que cruzam todo o corpo. Ter as fáscias desses trilhos saudáveis é fundamental para a saúde da coluna vertebral e do aparelho digestório.

Já o famoso “cachorro olhando para baixo” vai dar ênfase à linha posterior, responsável pelo equilíbrio e por manter o corpo humano em pé.

“Todo movimento fascial é também um movimento muscular, um não existe sem o outro”, ensina Ana Otsubo.  A diferença está no ritmo e na velocidade.  O movimento com ritmo leve, rápido e solto vai agir na fáscia. Já o movimento mais denso, devagar e com permanência vai trabalhar os músculos.  

Estudos ainda mais recentes mostram que temos também uma fáscia holográfica que atua no campo eletromagnético, por meio de partículas de luz e de sons. Essas partículas criam uma vibração morfogenética, podendo, inclusive, modificar nossa arquitetura. Ou seja, pensamentos e emoções também atuam na fáscia e em todo o organismo humano. Ter bons pensamentos – sankalpa – entoar e ouvir mantras, além de meditar, contribuem para o melhor funcionamento do sistema fascial.

Nas práticas de yoga reunimos todas essas ferramentas indicadas para melhorar o funcionamento das fáscias. Fazemos movimentos fluidos, mas também permanecemos nas posturas. Trazemos atenção para o corpo e para a respiração, induzindo a interocepção. Percebendo o corpo internamente, passamos a observar também nossos pensamentos e emoções, atuando na fáscia holográfica.

Então, pessoal, mais do que nunca, é hora de abrir o tapetinho e praticar yoga com mais essa intenção: hidratar e fortalecer a fáscia.

Hari Om!!

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